Cá na terra

A vida como ela é(?) cá na terra do sr Vegeta Da Silva ... ou como fazer um bolo igual ao da filha da Srª Dª Adelaide dos ovos.

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Localização: Freixo de Santa Comba de Espada à Cava, Portugal

quinta-feira, junho 14, 2007

"Santo António me acuda"

Por vezes cá na terra as coisas não correm como esperado. Que o diga o sr Diamantino da peixaria, que neste dia passado de Santo António tudo lhe correu de contrafeição, que para quem não sabe é o mesmo que ao contrário, mas dá um ar mais culto e sofisticado.
Ora como é do conhecimento geral, cá na terra as festas dos santos populares são ocasiões de tradição, com missa, marchas, o sr Joaquim dos barreiros, pão, bifanas, sardinhas, minis e fogueiras. Pois foi a parte das minis, sardinhas e fogueiras, que complicou tudo ao sr Diamantino. Confusos? Eu passo a elucidar, que é como quem diz explicar em linguagem de cidade.
Todos os anos o sr padre cura chama a si e à paróquia a organização das comemorações dos santos populares, desde a missa à quermesse, passando pela contractação dos fornecedores do arraial e até da animação. Este ano, e para não ser diferente dos outros anos, o sr Diamantino ficou encarregue de fornecer as sardinhas, de preferência gordas e pouco galdérias, nada como aquelas do anuncio da coca-cola, que deviam de ser sardinhas transgésticas, de tão assanhadas que eram. E até estava tudo a correr pelo melhor, com o peixe bem acomodado e pronto para grelhar na brasa, e as minis a escorregarem calmamente pela goela que até fazia calor. O estaminé, que é estabelecimento em estrangeiro, do sr Diamantino estava muito bem conseguido e enfeitado, com os balões e as fitas, e uma imagem do santo a dar um sermão tal aos peixes que estes já estavam verdes. Era isso ou então o quadro está tão velho que a tinta já está esverdear, assim tipo os senhores deputados da assembleia, mas sem as secretárias jeitosas. Ao canto estava como não poderia deixar de ser, o braseiro onde o peixe iria a grelhar, e em fila estava a bancada do pão e das minis, embora estas estivessem a diminuir a olhos vistos.
Seria esta preparação do funcionamento que transformaria o arraial em algo mais que o normal. É que o sr Diamantino, ciente que uma boa brasa é que faz a sardinhada, tratou de puxar pelo braseiro até ter um fogo digno de Mefislotofles, que é o nome que dão ao Diabo nos bares de coqueteiles na Russia.. "Brasa afeitada, sardinha assada", como se diz cá na terra, e estava o homem em grande azáfama de põe sardinha, vira a outra, põe mais uma, "Óh freguês pegue lá esta quentinha", quando começou a vir à tona o efeito das minis fora de tempo. Vai que ele agarra numa mini por engano, coloca na grelha, vira-se para o balcão do pão, puxa de uma fatia grossa, e vira-se de novo para o braseiro mesmo em tempo de ver a garrafa a cuspir a tampa e o conteúdo a sair em jacto como se fosse uma garrafa de champanhe a imitar espumante. O esguicho cervejeiro tratou de acertar em cheio na imagem do Santo, que tombou para cima dos balões que pegaram lume de imediato. Com o problema de visão turva que estava o sr Diamantino pensou que era uma manifestação milagrosa do santo casador, e prostou-se logo ali a rezar uma Avé-Maria, não tendo percebido que o fogo era real e estava a chegar à barraca do lado, que era a dos bagaços e licor Beirão. Com isto chegou o sr presidente da junta, que como é do conhecimento geral sabe tudo acerca de tudo, e tentou logo ali apagar o fogo, mas como ele tinha estado durante a tarde a acompanhar o sr Diamantino na dificil tarefa de manter as minis debaixo de olho, ou dentro do buxo, enganou-se. Ao invés de água puxa de um garrafão do bagaço em peça do sr Lestiano das aguardentes, despeja-o em catadupa no lume e a bola de fogo que despoletou foi de tal manganitude que levou as sobrancelhas e pestanas de quem se encontrava nas redondezas. Rezumindo, a fogueira era de tal ordem que nada havia a fazer pelas sardinhas, pelo pão, e acima de tudo pelas minis. O que safou foi o sr padre cura, que certamente inspirado pelo santo, benzeu o fogo como sendo a fogueira oficial do arraial, permitindo assim que a festa prolongasse pela noite dentro. Nisto tudo fica a sensação que foi na verdade mais um milagre cá da terra, pois não fora a intervenção da imagem do Santo não teria havido tão grande fogueira, e sem a fogueira teríamos todos ido para a cama mais cedo, com a inevitavel perda de convivio, mas acima de tudo de consumo de minis e bifanas. Esta nossa terra é mesmo abençoada, por Homessa.